quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Confissões de Capitolina


Doutor Bento Santiago. Meu marido, meu amigo. Bentinho. Tão puro, tão ingênuo e me fazia rir com as suas bobagens.

Jamais esquecerei o nosso primeiro beijo. Éramos tão jovens, mas nos amávamos desde então. Bentinho penteava-me os cabelos. Seus dedos, um tanto quanto atrapalhados, devo dizer, trançavam-me os fios. Então eu me reclinei e ali, mesmo com os cabelos emaranhados, nossos lábios se tocaram pela primeira vez. O quão inocente éramos! Prometemos amor eterno sem ter idéia do que era eternidade. Não que eu tenha me arrependido, nunca! Amei Bentinho e sobre isso não poderia haver nenhuma dúvida!

Porém havia. Bento duvidava do meu amor. Talvez ele nunca tenha acreditado que aquela moça da Rua de Matacavalos teria se apaixonado por ele, mas ela se apaixonou, eu me apaixonei! Mas ele duvidava disso. Parecia que o meu amor nunca era o suficiente. Sempre que me olhava, no fundo Bentinho estava se perguntando se eu era sincera com ele. Mesmo depois de termos nos casado, mesmo depois de termos tido um filho juntos! Como ele pôde duvidar disso? Antes de sermos marido e mulher éramos amigos. Como pôde desconfiar de mim?

Ezequiel, nosso filho. Ezequiel, que de Escobar só tem o nome! E então Bentinho acusou-me de tê-lo traído com o seu melhor amigo, que nem morto pôde descansar em paz, sendo alvo de sua desconfiança. Talvez o problema de Bentinho seja esse: acreditar que ele é o único capaz de amar e confiar, mas que, no final, acaba não fazendo nenhum dos dois.