Como descrever tudo que eu senti na estréia de Harry Potter e as Reliquias da Morte Parte 2, nos dias que a antecederam e nos dias (e na vida toda) depois dela? Não dá, simplesmente. Porque nem eu entendi direito o que aconteceu comigo.
Toda a bipolaridade antes da estréia. Quero que chegue logo, quero que demore mais um ano, quero voltar para 2001 e viver tudo de novo. E fui me preparando, avisando todos da minha hiperatividade incontrolável que viria no dia da estréia (assim como das outras vezes), aceitando que ia desidratar de tanto chorar com tudo que aconteceria nessa segunda parte do filme. E aí veio a surpresa.
Hiperatividade? Que nada. Na fila, começou a cair a ficha de que era o último. A última vez que eu iria sentir aqueles sentimentos. A última chance de sentar no chão do cinema por horas a fio rodeada de amigos para esperar o que esperávamos a meses, mesmo que depois saíssemos todos xingando o roteirista. O último encontro com meus melhores amigos do mundo inteiro, aqueles que cresceram junto comigo e com quem eu aprendi a ser quem eu sou. Quieta, na fila, as lágrimas vieram. E eu abraçava cada amigo que fiz graças à esse mundo. Amigos com quem eu consegui uma amizade tão verdadeira quanto Harry, Rony e Hermione. O fim estava incomodantemente próximo e eu não aguentaria o choque.
Então o rosto de Lord Voldemort apareceu na tela, gigante, sem aviso, e as lágrimas para as quais eu tinha me preparado fugiram. Choque. Sem reação. Sentimentos indefiníveis. As pessoas ao redor choravam, soluçavam, ficavam sem fôlego. E eu ali, olhando para a tela, afundada na poltrona. Como o fim poderia ter chegado? Nenhuma lágrima derramada durante o filme, e depois, só muitos abraços nos amigos potterianos. Não chorar não significava que eu sentia menos, que não doía. Ao contrário, acho que a dor foi tão grande que ficou entalada. E ainda está presa, latente.
Uma vida. E nada mais será o mesmo. Não porque seja um fim, porque não é. Não quero acreditar que seja, não vou deixar que seja e, por isso, não vai ser. A magia sempre vai existir. "Nós perdemos Harry esta noite. Mas ele não se foi. Está aqui, em nossos corações", disse Neville, e sim, ele está. E no meu estará para sempre, em um lugar inantigível, inabalável, insubstituível. Devo quem sou à Joanne Kathleen Rowling. Ela me ensinou muitas coisas que o mundo parecia estar esquecendo, e não só à mim, mas à toda uma geração. O valor e a importância da amizade, lealdade, coragem e, acima de tudo, do amor. Não estranhe se o mundo melhorar, nem que seja só um pouquinho, na próxima década. JK é responsável por uma geração que aprendeu coisas simples, mas importantes, que com certeza devem fazer a diferença.
Harry Potter vai fazer parte de mim para sempre. Sempre terei um sorriso ao lembrar do menino magricela de óculos e testa rachada, da cdf sangue-ruim de cabelo volumoso e do ruivo traidor do sangue, sardento e de vestes de segunda mão. Sempre que eu quiser fugir do mundo terei várias chaves de portais em casa, encontradas em qualquer lugar entre "Sr. e Sra. Dursley eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado" e "Tudo estava bem".
Digo com o maior orgulho e felicidade do mundo que, sim, eu acompanhei Harry até o fim. Malfeito feito, sou pottermaníaca até a alma.